Bonnie e Klyde foram devagar pelo estreito caminho até a estranha portinhola no teto ao lado do dormitório de Klyde.
-Uma porta? - estranhou o menino - É raro encontrar em tetos - principalmente de castelos.
-Minha tia disse que era bastante usada em tempos idos, para fugas desesperadas como a nossas.
Os dois riram e entraram pela pequena porta dando em uma sala empoeirada com um enorme armário de madeira em uma das paredes.
-Aqui! - apontou Bonnie para o móvel - dentro deste armário.
Ao abrir, Klyde deslumbrou-se com os variados tipos de relógio, alguns bem antigos, em especial uma ampulheta, que continha uma areia dourada e uma inscrição.
Klyde se dirigiu até seu dormitório, um quarto com espaço para mais 2 camas.Dois colegas seus já estavam deitados, em um sono profundo, então se encaminhou para sua cama nas pontas dos pés e tentou pegar no sono. Depois da aula de Biologia, não viu mais Bonnie, desesperada para fugir de suas perguntas. Ele fechou os olhos esperando dormir rápido. Mas o que chegou foi uma pedra em sua cabeça. Bonnie estava sentada no parapeito da janela (do 5° andar, diga-se de passagem), com 4 pedrinhas na mão.
- Você pode se levantar agora, ou eu posso jogar os restantes na sua cabeça. - disse com um sorriso maroto.
-Que diabos é isso?
-Hã?! Isso? É que eu gosto de fazer anotações, sobre o que está acontecendo, para não esquecer mais tarde.
-Um diário? Há há há!
Ignorando as risadas de sua companheira, Klyde pegava o caderno e abria , lendo em voz alta alguns trechos:
-Início das aulas do Internato Saint Louis: dia 03/03 - hoje, por sinal - horário de Segunda - feira: Geografia, um horário...
- O que aconteceu, como viemos parar na enfermaria? - disse Bonnie meio tonta
- ISSO QUE EU GOSTARIA DE SABER! - disse Conceição furiosa e continuou - Já está quase amanhecendo e os dois foram encontrados na entrada da academia! Estavam desmaiados, por isso foram trazidos pra cá! Os dois receberão detenções por estarem fora de seus dormitórios à noite!
- Nós podemos expl... - tentou dizer Klyde, quando foi interrompido.
-Não quero saber de desculpas! Regras são regras! Nenhum aluno deve sair de seus dormitórios à noite! - gritava Conceição enquanto retirava-se da enfermaria - E não se atrasem para as apresentações de início do ano letivo!
Bonnie e Klyde olhavam para o portão que rangia ao se abrir. Do outro lado estava um jardim esquecido pelo tempo: colunas e bancos antigos, rachados e, alguns, cobertos de ramos. Bonnie deu um passo para frente. Suas mãos e pés tremiam e seu coração pulava. Klyde se moveu junto dela, porém seus olhos observavam o lugar com receio.
-Esse... Esse lugar... Eu já estive aqui...
Klyde olhava instigado para a pessoa a sua frente.
-Qui est elle? - disse para a camélia ao seu lado.
Bonnie olhou curiosa para o garoto. "Falando com as plantas?", pensou.
- O que você esta fazendo? Me espionando? - perguntou Klyde ao mesmo tempo com raiva e simpatia.
Era estranho aquele sentimento. Como ter simpatia por uma desconhecida? Seus destinos estavam unidos de uma forma indescritível. E isso incomodava Klyde: seu destino decidido, o inevitável. A dependência de outra pessoa para viver o havia feito sofrer. Aquela pessoa, aquela menina, precisava ir.
Klyde não sabia exatamente onde era a Academia. "Agora pegue suas coisas e vá embora daqui!", disse-lhe o pai; "Vá para a Academia Saint Louis, nos arredores do Bosque Carmim! Encontre Mathias Kelin e diga-lhe que eu o mandei!", gritou sua mãe enquanto o menino entrava no trem das 12:00h. Após vagar em busca de uma boa alma que o socorresse e lhe mostra-se qual seria a parada certa para o Bosque, Klyde, finalmente, arrastou sua mala até a o portão Principal e parou em frente a uma mulher gorda e com uma terrível cara de sapo.
O Bosque Carmim era um lugar calmo, geralmente com um céu nublado sobre rosas de um tom vermelho entorpecente. Poucos se aventuravam a entrar naquele lugar misterioso. Lendas habitavam o bosque, tornando-o perigoso, e ao mesmo tempo mágico e envolvente, atraindo para si Bonnie e Klyde (que tinham sede de aventura!!! ...de água, fanta, vinho, coca-light e etc).
Ambos vindos de lugares diferentes, foram transferidos à Academia Saint Louis nos arredores do bosque, para terminarem o segundo grau e posteriormente fazerem faculdade.
Bonnie mudou para essa cidade, pois necessitava respirar novos ares, estava disposta a começar uma vida nova, longe de todo o seu passado. Com as inúmeras decepções que ela já teve, aprendeu a ser fria e muito cautelosa, dança conforme a música, entretanto, ela escolhe o ritmo.
Klyde veio da Cidade da Névoa, onde trilhou caminhos tortuosos, fugindo dos fantasmas do seu passado. Valoriza muito os amigos e é incapaz de abandoná-los, apesar de ter sofrido muito por pessoas que não faziam o mesmo. Nessa nova fase de vida, ele busca ser independente e forças para lutar por seus sonhos.