Bem, ele não viu exatamente uma serpente. Era mais uma dedução. O que ele via era algo como um corpo de uma cobra enorme com pequenas marcas vermelhas, formando desenhos em seu corpo. Mas não havia um começo ou um fim. Suando frio, sentado no chão a poucos metros dali, Klyde procurava receoso onde estava a cabeça da criatura. Sua possível cauda ou possível cabeça se estendiam mais afundo no Jardim, entrando em uma depressão perto das paredes do prédio. Do outro lado sua cauda (ou cabeça...) atravessava o muro que separava a Academia do Bosque Carmim.
Klyde nunca havia sentido tanto medo em sua vida. Aquilo não era possível!. Não havia animais daquele tamanho (nem comprimento).
-KLYDE!!!
"Bonnie e Klyde olhavam para o portão que rangia ao se abrir. Do outro lado estava um jardim esquecido pelo tempo: colunas e bancos antigos, rachados e, alguns, cobertos de ramos. [...] O jardim era realmente mágico pela contradição que existia nela: havia rosas de um vermelho profundo envolta das várias paredes e colunas, ao mesmo tempo em que as demais plantas do lugar estavam secas e mortas."
Jardim Sul |
-Tá vindo, Bonnie!
-Quem?
-Conceição, claro!
-Por onde ela está vindo?
- d'où il vient? - virou-se para a planta ao lado - Pelo corredor à esquerda, Bonnie.
- Então, pelo corredor oposto!!
Os dois partiram rápido, mas logo se depararam com com inevitável visão de colunas caídas em frente ao portão que liberava o acesso para as demais áreas da Academia.
-E agora? - Klyde virou-se para Bonnie em busca de alguma orientação, esperando que ela pudesse resolver mais esse problema.
Bonnie e Klyde foram devagar pelo estreito caminho até a estranha portinhola no teto ao lado do dormitório de Klyde.
-Uma porta? - estranhou o menino - É raro encontrar em tetos - principalmente de castelos.
-Minha tia disse que era bastante usada em tempos idos, para fugas desesperadas como a nossas.
Os dois riram e entraram pela pequena porta dando em uma sala empoeirada com um enorme armário de madeira em uma das paredes.
-Aqui! - apontou Bonnie para o móvel - dentro deste armário.
Ao abrir, Klyde deslumbrou-se com os variados tipos de relógio, alguns bem antigos, em especial uma ampulheta, que continha uma areia dourada e uma inscrição.
Klyde se dirigiu até seu dormitório, um quarto com espaço para mais 2 camas.Dois colegas seus já estavam deitados, em um sono profundo, então se encaminhou para sua cama nas pontas dos pés e tentou pegar no sono. Depois da aula de Biologia, não viu mais Bonnie, desesperada para fugir de suas perguntas. Ele fechou os olhos esperando dormir rápido. Mas o que chegou foi uma pedra em sua cabeça. Bonnie estava sentada no parapeito da janela (do 5° andar, diga-se de passagem), com 4 pedrinhas na mão.
- Você pode se levantar agora, ou eu posso jogar os restantes na sua cabeça. - disse com um sorriso maroto.
-Que diabos é isso?
-Hã?! Isso? É que eu gosto de fazer anotações, sobre o que está acontecendo, para não esquecer mais tarde.
-Um diário? Há há há!
Ignorando as risadas de sua companheira, Klyde pegava o caderno e abria , lendo em voz alta alguns trechos:
-Início das aulas do Internato Saint Louis: dia 03/03 - hoje, por sinal - horário de Segunda - feira: Geografia, um horário...
- O que aconteceu, como viemos parar na enfermaria? - disse Bonnie meio tonta
- ISSO QUE EU GOSTARIA DE SABER! - disse Conceição furiosa e continuou - Já está quase amanhecendo e os dois foram encontrados na entrada da academia! Estavam desmaiados, por isso foram trazidos pra cá! Os dois receberão detenções por estarem fora de seus dormitórios à noite!
- Nós podemos expl... - tentou dizer Klyde, quando foi interrompido.
-Não quero saber de desculpas! Regras são regras! Nenhum aluno deve sair de seus dormitórios à noite! - gritava Conceição enquanto retirava-se da enfermaria - E não se atrasem para as apresentações de início do ano letivo!
Bonnie e Klyde olhavam para o portão que rangia ao se abrir. Do outro lado estava um jardim esquecido pelo tempo: colunas e bancos antigos, rachados e, alguns, cobertos de ramos. Bonnie deu um passo para frente. Suas mãos e pés tremiam e seu coração pulava. Klyde se moveu junto dela, porém seus olhos observavam o lugar com receio.
-Esse... Esse lugar... Eu já estive aqui...
Klyde olhava instigado para a pessoa a sua frente.
-Qui est elle? - disse para a camélia ao seu lado.
Bonnie olhou curiosa para o garoto. "Falando com as plantas?", pensou.
- O que você esta fazendo? Me espionando? - perguntou Klyde ao mesmo tempo com raiva e simpatia.
Era estranho aquele sentimento. Como ter simpatia por uma desconhecida? Seus destinos estavam unidos de uma forma indescritível. E isso incomodava Klyde: seu destino decidido, o inevitável. A dependência de outra pessoa para viver o havia feito sofrer. Aquela pessoa, aquela menina, precisava ir.
Klyde não sabia exatamente onde era a Academia. "Agora pegue suas coisas e vá embora daqui!", disse-lhe o pai; "Vá para a Academia Saint Louis, nos arredores do Bosque Carmim! Encontre Mathias Kelin e diga-lhe que eu o mandei!", gritou sua mãe enquanto o menino entrava no trem das 12:00h. Após vagar em busca de uma boa alma que o socorresse e lhe mostra-se qual seria a parada certa para o Bosque, Klyde, finalmente, arrastou sua mala até a o portão Principal e parou em frente a uma mulher gorda e com uma terrível cara de sapo.
O Bosque Carmim era um lugar calmo, geralmente com um céu nublado sobre rosas de um tom vermelho entorpecente. Poucos se aventuravam a entrar naquele lugar misterioso. Lendas habitavam o bosque, tornando-o perigoso, e ao mesmo tempo mágico e envolvente, atraindo para si Bonnie e Klyde (que tinham sede de aventura!!! ...de água, fanta, vinho, coca-light e etc).
Ambos vindos de lugares diferentes, foram transferidos à Academia Saint Louis nos arredores do bosque, para terminarem o segundo grau e posteriormente fazerem faculdade.
Bonnie mudou para essa cidade, pois necessitava respirar novos ares, estava disposta a começar uma vida nova, longe de todo o seu passado. Com as inúmeras decepções que ela já teve, aprendeu a ser fria e muito cautelosa, dança conforme a música, entretanto, ela escolhe o ritmo.
Klyde veio da Cidade da Névoa, onde trilhou caminhos tortuosos, fugindo dos fantasmas do seu passado. Valoriza muito os amigos e é incapaz de abandoná-los, apesar de ter sofrido muito por pessoas que não faziam o mesmo. Nessa nova fase de vida, ele busca ser independente e forças para lutar por seus sonhos.